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Itália

Inter de Milão ganha porque tem mais músculo, diz Rubinho

26 abr 2009 - 09h26
(atualizado às 09h52)
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Embora o Genoa tenha feito bonito e batido de frente com os grandes, é praticamente consenso na Itália que o título ficará com a Inter de Milão. Rubinho, que está desde 2006 atuando na Bota, vê uma explicação física para o sucesso da equipe dirigida pelo português José Mourinho.

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Nessa terceira parte da entrevista ao Terra, o goleiro do Genoa fala ainda sobre os grandes italianos, o sucesso dos camisas 1 brasileiros e fracasso dos locais. E em especial de Júlio César, o dono da Inter. Conta, ainda, qual o melhor finalizador que já enfrentou por lá.

Entrevista com Rubinho - Parte 3

Terra - Itália e Brasil são hoje os dois únicos países grandes em que se joga com três zagueiros enquanto o mundo inteiro diz ser ultrapassado. O que você acha disso?

Rubinho - Avalio que hoje, você jogando com os três zagueiros, libera muito o meio-campo para jogar. O time acaba ficando muito longo, como eles chamam aqui. Muito espaçado, com a defesa lá atrás e o meio-campo alto, perto do ataque. Não fica um time bem postado, equilibrado. Mas dá para equilibrar jogando sempre e hoje já tem poucos jogando no 3-5-2, que acho que vai acabar logo. A tendência aqui é o 4-3-3.

Terra - Mesmo com o Mourinho, a Inter continua jogando um futebol feio. Por que é tão difícil batê-los?

Rubinho - É a equipe mais bem preparada fisicamente. Não é a que mais corre, mas tem mais músculos. O Ibrahimovic tem 2m de altura por mais 1,5m de largura. O Maicon tem 1,90m, corre como um cavalo e cruza 50 bolas por jogo. O Stankovic corre 100 minutos e não cansa, o Cambiasso é pequeno, mas é forte como uma tora de madeira. O Zanetti também e tem mil anos na Inter. E tem o Júlio César, que hoje é o melhor do mundo, pra mim.

Então tem tudo isso e você coloca junto, mesmo que joguem feio, um chute do Stankovic entra na gaveta, o Ibrahimovic vai lá e faz um gol. É por isso que continuam jogando feio e ganhando. Tem a qualidade dos jogadores e muita força física.

Terra - E nas competições européias, é um estilo que não tem funcionado. Aliás, por que os clubes italianos têm ido tão mal em nível internacional?

Rubinho - Pode ser que falte uma preparação melhor para um jogo internacional. Aqui, se tem uma partida muito difícil, os treinadores e jogadores ficam muito preocupados e levam isso para dentro do jogo. Meia hora antes do jogo com o Arsenal, estavam todos muito tensos, e no adversário, tinha um alto falante no vestiário, com música, todos cantando e muito relaxados.

Isso significa que têm confiança de que vão jogar bem, vão se ajudar, e ganhando ou perdendo, eles sabem que fizeram o melhor. Isso é o que o Spalletti (treinador da Roma) disse. Entram em campo com essa mentalidade e o italiano, se tem partida difícil, fica sem dormir, sem comer, realmente ficam preocupados de uma maneira absurda. Mas ganhar ou perder faz parte. Tem que entender que pode ir até certo ponto e depois não dá mais.

Terra - Sobre o Milan. Pelo teu feeling, o Ancelotti permanece?

Rubinho - O Milan, de todos os grandes com que jogamos, é o que não tem um ritmo tão forte, é muito cadenciado. Sabe quando se junta muito jogador bom e fica aquele toque lento? Tipo uma pelada de amigos. Tem muito jogador bom, tem muito cara de qualidade, mas não muda muito o ritmo. É sempre aquela coisa. Acontece que, não é que dá sono, mas depois o adversário começa a correr mais. Ou então entra no marasmo do Milan e perde no finzinho. É um time muito experiente, com a média de idade alta, mas é um tipo de jogo de experiência.

Já sobre o Ancelotti, pode ser que vá embora, sim. É muito tempo no clube, então se o time ganha, ninguém fala nada, mas se perde, ele é o primeiro a ser criticado. Parece uma pessoa honesta, centrada, e até para resguardá-lo, o clube pode chegar a um acordo. Tem a questão do Ronaldinho, que nunca joga, e quando ele vem para a Seleção, o Ancelotti acha ruim por colocarem ele em outra posição. Acho que indo embora, ele pode tirar um peso.

Terra - Há muitas críticas na Itália por tantos goleiros brasileiros. Como é isso?

Rubinho - É delicado. Vira e mexe eles perguntam por que os brasileiros viraram melhores que os italianos, por que jogam em grandes times e os italianos não. Falo sempre que a gente teve a humildade de chegar e aprender o jeito de eles jogarem, colocamos a cara para bater e se errar, errou. Só que colocam aqui de uma maneira, como se roubássemos os lugares dos goleiros italianos. Se você ver bem, não tem goleiro italiano.

O Catania tem um argentino, a Fiorentina tem um francês, o Milan, a Roma e a Inter, têm um brasileiro. Alguma coisa errada tem na escola italiana de goleiros. No Brasil, trabalhei dez anos com o Solito (ex-preparador do Corinthians) e ele me deu uma formação técnica que não tem aqui, tão bem apurada.

O treinador de goleiros da Juventus deve ter uns 70 anos e o do Milan, pode ter uns 65 anos. Isso pode parecer bobagem, mas o meu treinador tem 41 e estuda muito a profissão de goleiro. Outro dia, disse que tinha visto um exercício diferente na Turquia, então tentamos fazer. Outra vez, trouxe outro da França, tentamos fazer. É um cara aberto para aprender outras técnicas e passa isso para mim. Tem treinador da Itália que pensa que é o melhor do lugar e fica parado no tempo. O preparador do Júlio César é estudado, preparado para fazer jogar bem. Isso falta no futebol italiano para os goleiros e por isso é que hoje temos nos sobressaído.

Terra - E o Júlio César?

Rubinho - Para mim, é o melhor do mundo. Não falo porque é brasileiro, não. Está numa fase que nem o Taffarel viveu, nem o Dida. Hoje, para mim, se a Inter está para ser campeã, deve muito a ele e ao Ibrahimovic. A cada partida, ele faz quatro milagres. Para um goleiro normal, seriam três gols. Aí ele faz milagres e o time ganha de 1 a 0. Hoje não tem um goleiro igual.

Terra - E o melhor finalizador que você já enfrentou?

Rubinho - Aqui tem muitos caras bons. O Ibrahimovic é muito inteligente e é um cara que te rouba tempo. Você imagina que ele fará uma coisa e ele faz outra antes. Cito ainda o Del Piero e o Di Vaio, que está muito bem, faz gol de todos os jeitos.

Para Rubinho, italianos estão estagnados na preparação de goleiros
Para Rubinho, italianos estão estagnados na preparação de goleiros
Foto: Divulgação
Fonte: Redação Terra
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