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Lutas Olímpicas

Eliminada no Mundial, Taciana diz: "agora todos conhecem Guiné-Bissau"

Atleta brasileira, que disputa o Mundial de Judô pelo país africano, comemorou retorno ao cenário internacional, mesmo caindo na segunda rodada. “Quem conhece minha história, sabe que eu sou abençoada de estar aqui hoje”

27 ago 2013 - 08h23
(atualizado às 08h38)
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Se Felipe Kitadai não conseguia esconder a decepção por ter caído logo na primeira luta no Mundial de Judô do Rio de Janeiro, na última segunda-feira, as lágrimas que escorriam no rosto de Taciana Lima tinham uma ponta de frustração, sim, mas, acima de tudo, levaram alívio e satisfação.

Eliminada do torneio na segunda luta, valendo uma vaga nas quartas de final, diante da belga Charline Snick (bronze em Londres 2012), a lutadora da categoria ligeiros, a mesma da campeã olímpica Sarah Menezes, preferiu ver o lado positivo do trabalho e, sobretudo, da história de vida. Apesar de brasileira, ela competiu por Guiné-Bissau.

Taciana Lima compete pela seleção de Guiné-Bissau
Taciana Lima compete pela seleção de Guiné-Bissau
Foto: André Naddeo / Terra

"Hoje eu estou em um campeonato mundial, com meu treinador, então acho que é muito bom lutar no Brasil. Ninguém conhecia Guiné-Bissau, e agora todo mundo conhece. Fico muito feliz por estar conseguindo transformar algo em um país que não tem cultura esportiva", explicou a judoca, que lutou pelo país africano, que na última Olimpíada levou uma delegação de apenas quatro atletas para solo londrino.

Aos 29 anos, sem ter conseguido uma vaga definitiva para buscar uma medalha de ouro na seleção feminina de judô, Taciana Lima, mesmo pernambucana de Olinda, tomou a atitude de defender a colônia portuguesa, com pouco mais de um milhão de habitantes, e várias etnias, influenciada pela história de vida do pai, um ex-ministro da Pesca de Guiné-Bissau e com quem teve contato definitivo apenas no final do ano passado.

Isso porque, nos anos 80, o pai da judoca, Óscar Baldé, foi ao Brasil para cursar engenharia e conheceu a mãe de Taciana. Os dois tiveram um relacionamento, mas com a necessidade de regressar ao país do ocidente africano, ele perdeu o contato com a companheira quando ela ainda estava grávida. A família materna se mudou para o Rio Grande do Sul e, desde então, Taciana nunca mais teve notícias do pai.

Até entrar em contato com a embaixada de Guiné-Bissau, e pelo fato de o pai ser um político local influente, o contato foi restabelecido, ela visitou o país, conheceu, enfim, o pai e hoje tem orgulho de defender as cores da nação africana. "Hoje, lá eu sou exemplo e referência, porque não tem judocas, não tem treinador, não tem tatame, sou apenas eu. Espero que eu consiga alavancar isso lá. Acho que aos poucos eu vou conseguir”, disse, confiante.

"Continuo treinando na Sogipa, em Porto Alegre, onde eu só tenho a agradecer ao clube e as pessoas que treinam comigo, pois desde o momento que eu assumi essa troca, que não é fácil, uma vez que a gente vai, não tem volta, e eu precisava do apoio da família e do clube, coisa que aconteceu em todos os momentos”, completou.

Analisando o combate em que foi derrotada por finalização, após sofrer um wasari da belga, Taciana explica que "eu já caí com o braço encaixado. Então pensei: 'ou ela leva meu braço para casa, ou eu desisto'. Mas eu fico feliz de não sair com lesão também. Seria um recomeço difícil. Gostaria muito de estar com uma medalha, mas quem conhece a minha história, e acompanha minha carreira, sabe que eu sou abençoada por estar aqui hoje".

Ela sabe que a caminhada até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, será árdua, mas para quem tem uma história de vida de superação, isso não é novidade. "Eu não estou satisfeita, porque a gente quer sair com uma medalha no peito, mas eu passei por várias situações difíceis e só de estar aqui e não ter desistido, lutando, e representando a Guiné Bissau, que me acolheu muito bem, estou muito feliz. Principalmente por nunca ter desistido”, concluiu. 

Fonte: Terra
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