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Ídolos apoiam PEC que limita reeleições de dirigentes esportivos

18 out 2012 - 07h41
(atualizado às 07h58)
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Danilo Vital

O fim das reeleições ilimitadas e a profissionalização da administração esportiva são mudanças que agradam a classe dos ex-atletas diante da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 12/2012, que será colocada em votação em Brasília e que pode causar mudanças estruturais no esporte do País. Ex-esportistas manifestaram apoio à medida e esperança de alterações positivas em entrevista ao Terra.

» Entenda como a PEC 12/2012 pode mudar o esporte brasileiro

A PEC 12/2012, de autoria do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), visa limitar a autonomia das entidades esportivas de acordo com "interesses da sociedade" e tem como principal efeito justamente o fim do número de reeleições ilimitadas. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi presidida por Ricardo Teixeira de 1989 a 2012, e, mais recentemente, Carlos Arthur Nuzman foi reeleito até 2016 para o comando do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) - cartola está no poder desde 1985.

"Dentro das metas que precisamos para melhorar para 2016 em diante, uma delas tem a ver com o aspecto de gestão das entidades nacionais e estudais de administração do esporte, passando por confederações, que é onde modelo de governar tem que ser modernizado", afirmou Lars Grael, ex-velejador dono de duas medalhas de bronze olímpicas e ex-secretário Nacional de Esportes no governo Fernando Henrique Cardoso (1994 - 2002). Segundo ele, é preciso acabar com a sensação de propriedade sobre entidades esportivas.

"Não é saudável para nenhuma instituição ter uma pessoa que governa um bem público - porque o esporte é um bem público - com mandatos indefinidos. Se um dirigente é bom, é bom a ponto de fazer um bom sucessor", apontou. A profissionalização dos dirigentes também foi exaltada pela ex-jogadora de vôlei Ana Moser, prata em Atlanta 1996 e presidente da organização sem fins lucrativos Atletas pela Cidadania, que trata do desenvolvimento do esporte no Brasil e no mundo.

Segundo Moser, as alterações da PEC dariam estímulo para a melhora das condições de práticas de diversas modalidades, com efeito de ter estímulo para a prática em todos os níveis: "em cima, na Olimpíada, e em baixo, nos estaduais, brasileiros e nas escolas". "Limitar o número de eleições é uma tendência até internacionalmente falando. O dirigente deixa ter garantias, precisa desenvolver o trabalho", ressaltou a ex-atleta.

Ana Moser ainda chamou a atenção para a necessidade de democratizar o sistema de eleição de dirigentes, que na maioria dos casos funciona de forma pouco abrangente: o presidente da Confederação é eleito pelos presidentes das federações, que são eleitos pelos clubes. O ex-tenista Fernando Meligeni, que não tem vínculo político ou outras atuações referentes ao assunto, também defendeu esse tipo de mudança. "E as pessoas que jogam, não têm voz nenhuma? E as pessoas ligadas ao esporte, não têm chance? Nenhum deles têm", lamentou.

Ressalvas

O ex-judoca João Derly, bicampeão mundial dos meio-leve e recentemente eleito vereador em Porto Alegre, deu opinião ao Terra ressaltando que, por conta da rotina de campanha, não pôde acompanhar devidamente a questão. E tratou de fazer ressalvas: "é bom ter uma renovação, a cada tempo dar uma renovada. Mas também é importante ter uma reeleição para desenvolver melhor o trabalho, ver as coisas acontecendo. Só temos que ter cuidado para não ficar muitos anos no poder e acabar acomodados".

Derly exaltou o trabalho de Nuzman à frente do COB, por exemplo, afirmando que "alavancou muito o esporte e trouxe a Olimpíada para o Brasil". "Em um caso ou de repente dois na história do esporte isso foi bom, mas em 150 foi ruim e acabou em escândalo", disse Fernando Meligeni, sobre o mesmo tema. Outra ressalva feita é quanto à proposta da PEC 12/2012, de limitar a autonomia das entidades, o que permite intervenção governamental.

Lars Grael classificou o projeto como algo "cuidadoso" e citou o Projeto de Lei 4397/2008, de autoria do deputado Geraldo Magela (PT-DF) e alterado pelo deputado José Rocha (PR-BA), que limita a apenas uma reeleição os dirigentes esportivos do País e exige contrapartida para captação de recursos públicos, o que acontece principalmente no esporte amador, que sobrevive de apoios como os da Lei Agnelo Piva.

"Se uma entidade se recusa a receber recursos carimbados, esse direito pode ser respeitado. Mas o governo tem poder de limitar que só entidades com modelo de gestão determinado possam receber recursos públicos. É decisão do Poder Executivo", disse Grael. "A única forma de limitar é porque os esportes vivem de verba pública. Você pode limitar a maneira de dar o dinheiro, tem que ter a contrapartida", concordou Fernando Meligeni.

A reportagem do Terra ainda tentou contato com o ex-atacante Raí e com o ministro do Esporte Aldo Rebelo, por mei da assessoria de imprensa do Ministério do Esporte, mas não encontrou disponibilidade no caso do ex-jogador e não obteve resposta do ministro.

Segundo Lars Grael, dirigente bom consegue fazer sucessor a altura
Segundo Lars Grael, dirigente bom consegue fazer sucessor a altura
Foto: Fernando Borges / Terra
Fonte: Terra
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