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Boxe

Frustrado por Pacquiao, Popó diz só temer "mulher e barata"

2 mai 2015 - 11h23
(atualizado em 4/5/2015 às 08h07)
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Acelino Popó Freitas diz só temer duas coisas na vida: mulher com unhas compridas e barata voadora. O tom bem humorado do pugilista, tetracampeão mundial por duas organizações diferentes (dois títulos pela categoria super-pena e dois como peso-leve), foi para responder sobre os dois adversários que sonhou enfrentar na carreira, mas que jamais cruzou, Manny Pacquiao e Floyd Mayweather, que fazem na madrugada deste sábado, às 1h (de Brasília), em Las Vegas, nos Estados Unidos, a Luta do Século. O brasileiro, por sinal, comentará o combate na transmissão exclusiva do evento para o Brasil.

Em entrevista ao Terra , Popó, em seu segundo retorno aos ringues, aos 39 anos, conta, principalmente, sobre como viu o desejo de lutar com Pacquiao frustrado por uma bolsa 25 vezes superior a maior de sua carreira, exigida pelo então promotor do filipino.

Popó prepara nova volta aos ringues para julho, em Santos
Popó prepara nova volta aos ringues para julho, em Santos
Foto: Klaus Richmond / K.R.C.DE MELO & CIA. LTDA – ME

“Chances, bem treinado e preparado, teria de vencer qualquer um (Pacquiao ou Mayweather), homem não pode ter medo de outro. Mulher temos medo, principalmente as com unha. E de barata, dependendo de como venha. Se a barata passar, pisamos, mas se vier voando não tem esse homem, não, sai de baixo. Eles não aceitaram, falei com Bob Arum (promotor do Pacquiao) e ele disse que até lutaria, mas só se viesse ao Brasil e com 25 milhões de dólares. Ficou impossível”, recorda o campeão.

“Por sinal, acho que dá Mayweather, mas por pontos. Pode ser que Pacquiao nocauteie, ele é pegador, mas Mayweather vai ganhar por pontos, ele sabe guardar o queixo. Vai ter horas em que o bicho vai pegar, mas é luta por pontos”, completou.

Popó afirmou que tentou lutar com o filipino Manny Pacquiao
Popó afirmou que tentou lutar com o filipino Manny Pacquiao
Foto: Chris Hyde / Getty Images

Após quase três anos da última luta, recheada por polêmicas declarações, contra Michael Oliveira, o pugilista que retorna aos ringues em 18 de julho, em Santos, contou que volta para “brincar de boxe”, já que se considera financeiramente bem.

Popó confessou ainda a luta contra a balança, principalmente com as dificuldades devido a comida baiana e a conhecida feijoada da mãe. O eterno lutador comentou sobre as dificuldades vividas na política como deputado, assegurando não ter se “misturado” com as corrupções, e que não descarta uma futura luta por cinturão, mas avisou que “não levantará o nome” de entidades secundárias.

Ao todo, o atleta, que encerrou em 1999 um enorme jejum de grandes conquistas brasileiras no boxe, tem um cartel de 39 vitórias, 33 delas por nocaute, e apenas duas derrotas

Popó comemora um de seus cinturões
Popó comemora um de seus cinturões
Foto: Instagram / Reprodução

Confira a entrevista completa com o pugilista Acelino Popó Freitas:

Terra - Como foi a decisão de voltar a lutar aos 39 anos? De que forma a família reagiu dessa vez?

Popó - A minha família nunca foi a favor de eu ter parado, principalmente o meu irmão que me levou para o boxe. Ele sempre disse que eu nunca deveria ter parado. Parei no auge da minha carreira, podendo conquistar mais um título mundial. E aí, depois de cinco anos, voltei para fazer a luta com Michael, a pedido de meu filho Popozinho, a história que todos já conhecem. Agora em dezembro o meu assessor começou a jogar na mídia, eu sem intenção nenhuma de voltar, que teria uma possível luta minha, com um card de três lutas para poder divulgar o boxe, com aquela coisa toda. Veio uma aceitação muito boa não só do público, mas da mídia, pela luta que fiz há dois anos atrás. Parei para pensar: não tenho como voltar por dinheiro porque, graças a Deus, o boxe me deu uma condição financeira muito boa. Não tenho como voltar por vaidade. Vou voltar por que, então? Porque o boxe não me parou por lesão, não tive lesões na mão, no pé, no ombro, na cabeça, nada disso, deixei o boxe quietinho e quando quisesse pegar ele de volta, eu pegaria. Então, o que preciso fazer? Correr muito, colocar o preparo físico além do normal como fiz contra o Michael Oliveira, porque o esporte nós não esquecemos, é como andar de bicicleta. E já estou fazendo minhas corridas, o condicionamento é muito importante. Posso levantar um pouco mais o boxe e tem algo meu, também, de estar bem, voltar até pela minha estética. Muitas vezes me olho no espelho e não vejo mais o atleta de antes. Compro uma calça bacana de grife e penso que vou perder, mas foi tão cara. Temos essa vaidade, não do consumo, mas da estética pelo fato de ter sido atleta muito tempo. É voltar por gosto, amor ao esporte. Quando fui campeão mundial fiz o boxe por profissão e obrigação. Hoje não tenho mais a obrigação, mas tenho a paixão e o amor ao esporte. Vou brincar de fazer boxe, vou lutar, me divertir com o que mais gosto de fazer. É uma coisa séria, mas vou fazer como uma partida de futebol, que quando você entra quer vencer, marcar gols.

Terra - E quase três anos depois está igual? O que precisará adaptar no seu boxe para poder lutar agora?

Popó - Eu não bebo e não sei nem o que é ficar bêbado, mas dizem as línguas que quando a gente pega um vinho antigo e guarda, fica melhor ainda. Eu não sei porque não gosto de vinho, para você ter ideia o único vinho que bebi uma vez na vida se chama Pérgola, porque é doce e custa R$ 12. Os grandes campeões mundiais como Mayweather, Pacquiao e Manihopkins têm acima de 35 anos. O último tem 50 anos. Não é a idade, mas como você se comporta e trata o seu corpo. Nunca maltratei o meu corpo, só com a feijoada da mamãe.

Popó ainda antes da aposentadoria
Popó ainda antes da aposentadoria
Foto: Getty Images

Terra - Sabemos que as famosas feijoadas da sua mãe estavam diretamente ligadas as suas vitórias. Agora, já conseguiu cortar? E as comidas baianas tem te atrapalhado muito?

Popó - As comidas baianas, sim, mas a feijoada não precisa cortar, tem que saber comer. A feijoada da minha mãe não é light, é pau puro. É carne de porco, de boi, é toicinho, todas as substâncias que você não pode. O pior é que é tudo gostoso. Tudo o que é proibido é gostoso. O feijão tem muito ferro, pode comer até todo dia fazendo dieta. A comida baiana deixamos para a volta.

Terra - E o que programa para essa volta? É um card inicial de três lutas mesmo? Já fechou com alguma emissora de televisão?

Popó - A primeira luta é para impactar em termos de vitória, de show, de evento, de qualidade e de investimento. Vou procurar fazer uma roupa bacana, ter a melhor iluminação, a televisão, um adversário a altura para que fiquem com um sabor de quero mais. Vamos divulgar um mês antes, como é uma luta amistosa e não título mundial. É amistosa porque não vale título, mas um mês antes porque o adversário pode se machucar ou receber uma proposta melhor. Infelizmente existem muitos lutadores mercenários que se recebem mil dólares a mais cortam. Você pode colocar a foto dele ou que for por conta de mil dólares.

Terra - Esses anos todos o seu nome esteve muito ligado a política. Você mais perdeu do que ganhou no período? Acha que valeu a pena?

Popó - Valeu a pena porque estive lá e não me misturei. Entrei de cabeça erguida e saí de cabeça erguida. Vale quando você não entra no jogo, nas corrupções que existem. Oferecem muitas coisas nos corredores, não os políticos diretamente porque não tem coragem, sabem da minha índole, mas aquilo de entrar em tal comissão para aprovar projeto tal e aí vemos isso, aquilo tudo. Tudo o que apresentei foi projeto meu e da minha assessoria. Infelizmente, não foram para frente porque não é do interesse do governo aprovar, ficamos a mercê disso. Nós votamos, pagamos todos os nossos impostos, fazermos tudo direitinho, mas só temos qualidade de vida se oferecermos para nós mesmos porque se dependermos dos governantes não teremos nenhuma. Temos que buscar com o que vivemos, pagamos, comemos e guardamos. Se pagarmos os benefícios não tem nada na frente, mas pagamos os impostos. Temos que tirar algo do que vivemos, comemos, gastamos para fazer uma previdência e ter uma aposentadoria lá na frente.

Popó como deputado federal em Brasília
Popó como deputado federal em Brasília
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Terra - Mas, com certeza, você entrou na política de um jeito e saiu de outro. O que te frustrou? E o que são esses jogos oferecidos pelos políticos?

Popó - Não foi frustrante, a minha parte eu fiz. Infelizmente, não fui eleito porque a população não acompanha o que político faz, mas o que paga. Se pagar para ter voto, vai ter voto. Se pagar as lideranças para trabalhar, você tem voto. Se você não pagar, faz campanha contra. Levei para a Bahia mais de R$ 40 milhões de emenda para saúde, esporte, lazer e apresentei mais de 70 projetos de lei, debati, discuti, presidi, defendi e fiz tudo o que um político deve fazer, mas isso não dá voto. O que dá voto, realmente, é a compra de voto. São os que pedem ajuda para casa, para pagar um engradado de cerveja, um butijão de gás, o IPVA, mas esse não era o meu perfil.

Terra - Logo que anunciou o seu retorno, você colocou que vinham mais títulos para o Brasil. O que quis dizer com isso?

Popó - Já me ofereceram até um título mundial, da WBF, que é o quinto título mundial, mas não me interessa, não quero entrar em um cinturão para dar nome ao cinturão. Quero um como o Conselho Mundial, a Federação Internacional e Organização Mundial de Boxe. Quero que o cinturão corra junto comigo e não eu levantar o nome do cinturão.

José Aldo treina boxe com Acelino "Popó" Freitas
José Aldo treina boxe com Acelino "Popó" Freitas
Foto: Alexandre Loureiro/Inovafoto / Divulgação

Terra - Mas você realmente sonha com isso nessa volta?

Popó - Sonhar, eu não sonho, pois tenho vários em casa, mas acredito se me derem oportunidade. Não é a minha meta, é esperar o que vai acontecer, agora.

Terra - O que acha do atual cenário do boxe? O tênis não aproveitou o legado do Guga, algo que o surfe já luta para não perder com o Medina. E o boxe?

Popó - Lógico que aproveitou, olhas as três medalhas que ganhamos nessa Olimpíada e o Sertãozinho, o quarto campeão do mundo? É aproveitado, foi aproveitado. Hoje o boxe tem uma estrutura olímpica muito boa, fora do normal. É difícil fazer Fórmula 1, comprar um carro. Tênis no Brasil a mesma coisa, comprando uma raquete e um tênis, mas é fácil fazer um saquinho, colocar na garagem e trocar soco, é barato. Em qualquer cantinho você faz uma academia, com qualquer chinelinho havaiana, como eu já fiz, dá para fazer uma manopla, para bater. Com qualquer atadura de farmácia você coloca na mão, protege. A gente já nasce batendo, praticamente, para sair da barriga.

Terra - Você disse que não pretende mais lutar com pugilistas daqui. Por que? E acredita que o Esquiva pode vir a ser um futuro campeão mundial?

Popó - Não sei, sempre lutei fora, nos Estados Unidos. As minhas primeiras lutas, sim, foram contra muitos brasileiros, mas não tenho motivos. Vamos bater em argentinos, cubanos, portorriquenhos. Os daqui não me dariam o sabor da disputa. Não é a minha vontade lutar contra brasileiros. São momentos totalmente diferentes, os dois estão seguindo uma carreira muito boa internacional, mas é muito cedo falar isso agora. Não é qualquer um que pode conquistar, qualidade eles têm, mas precisam esperar. Eles têm só sete ou oito lutas, nenhum título mundial. Estão bem encaminhados, tem empresas boas. Acredito que pode ser que cheguem, mas vão ter que pelejar um pouquinho.

Terra - O que falta de apoio ao boxe brasileiro hoje? E por que voltar logo aqui em Santos, não em Salvador? É algo político, já que mudou o seu título para Sâo Paulo?

Popó - O boxe tem apoio da CBBoxe, o que falta são pessoas sérias para fazer a luta, a televisão. Deixaram uma imagem muito ruim, falsificaram muito cartel, botavam um adversário e a luta era outra. O meu maior estímulo e vontade de lutar aqui, não só pela cidade, foi o pedido de seu Pepe Astult meu grande amigo, irmão. Tenho poucos amigos e ele é um deles. Tudo por conta dele. Ele patrocina o meu sobrinho, patrocinou mais de 150 atletas nossos e foi o primeiro a saber. Ele só falou: não esquece que tem que ser em Santos. Falei que era uma ordem.

Popó venceu a maior parte de suas lutas por nocaute. E no primeiro round
Popó venceu a maior parte de suas lutas por nocaute. E no primeiro round
Foto: John Gichigi /Allsport / Getty Images

Terra - Com relação ao Maguila, que passa por sérios problemas de saúde. Você recebeu uma homenagem, esteve com sua esposa, tem tido contato com ele? Acredita mesmo que o boxe pode gerar sequelas?

Popó - Nunca pensei. O que sempre penso é que nunca fui nocauteado em 41 lutas que fiz, foram 33 vitórias. De todos os nocautes, 22 nos primeiros rounds. O resultado foi mais positivo do que de muitos. Os nocautes de Maguila foram pesadíssimos, mas nunca podemos falar, ninguém sabe 100%, se foi o boxe. O Eder Jofre todos falavam que era Alzheimer por conta dos socos, mas não era isso, estava até tomando os seus remédios. Ele teve uma depressão profunda, pois perdeu a companheira de mais de 50 anos. As pessoas falam demais, criam muita lenda. Pode acontecer, mas o Eder tem uma coordenação impressionante. Bate no pushing ball como muitos lutadores não sabem bater.

Terra - Você já falou sobre quase ter enfrentado o Pacquiao e ter Mayweather como favorito para a luta. A bolsa dessa luta gira mais de 300 milhões de dólares. Lembra quanto foi a sua maior?

Popó - Lógico. A gente só não lembra do que gasta, mas lembra o que ganha. O mais importante é que se entrar no leãozinho vão ver tudo o que ganhei. A minha declaração era toda fora do País e já tinha imposto lá, sem bitributação. O meu máximo foi 1 milhão de dólares. É fora do normal para futebol, para tudo. As lutas que eu fiz mudaram a minha vida, imagem essa.

Terra - Ouvi que nesse seu retorno você quer gratuidade nos ingressos. Além disso, diz não precisar de dinheiro. O que envolve em termos financeiros, então?

Popó - É o mínimo. Vou ter patrocínio para o meu treinamento, pode ser que eu tenha uma bolsa, mas estamos negociando isso. Se eu trabalho, ganho para isso, não acho justo as pessoas envolvidas ganharem e eu não. A gratuidade vão ser as entradas, não quero que ninguém pague. Já conversei com o prefeito que quero ginásio aberto, sem cobrar ingressos. Tenho uma luta em Belém, em um estádio para 25 mil pessoas, e outra em Campo Grande.

Popó foi um verdadeiro fenômeno do boxe brasileiro
Popó foi um verdadeiro fenômeno do boxe brasileiro
Foto: John Gichigi /Allsport / Getty Images

Terra - E a mão está pesada, ainda? Estima que tem quantos quilos a perder no período? Como serão os treinos?

Popó - Depende de como encaixa, não é força, é colocação. Se puder unir os dois, melhor ainda. De excesso estou uns 10 kg (acima do peso), mais uns três ou quatro quilos. O meu peso normal é 75 kg, estou com 83, 84. Vamos abrir os treinos para escolas municipais e estaduais de segunda a sábado, só descansarei aos domingos.

Terra - E o que acha do MMA? Você tem contato com o Anderson Silva, muitos deles utilizam treinadores de boxe. Como vê a questão do doping?

Popó - Sou autor do projeto de lei para regulamentá-lo como esporte. Sou apoiador do MMA porque é um esporte. O Cigano, José Aldo, Anderson Silva fazem trabalhos sociais. Nunca recebi um convite, nunca iria arriscar o meu corpo com um esporte não me pagaria o que eu ganho no boxe. O contato do boxe é soco toda hora, ali trava, vai para o chão. Qual lutador de MMA que migrou para o boxe? Eu fiz sparring com os caras de MMA e não aguentam um round. Se for botar com luva de boxe e trocar soco, não vai. Sobre o Anderson Silva o conheço e não acredito de verdade.

Terra - A camisa do Santos tem algo a ver com a luta? Pretende, quem sabe, pedir para treinar com o time no período?

Popó - Amo futebol, venho aqui passar três ou quatro dias e ninguém me leva para jogar. Vou procurar alguém para jogar uma baba. Ia trazer a minha chuteira, mas quem sabe lá no Santos, poderia ensinar a jogar. Gostava de jogar de centroavante, mas hoje não existe mais. Se eu puxar para a direita e chutar é gol. E se o clube me procurar, quiser fazer algo, posso lutar com a camisa, também. Já fiz isso pelo São Paulo há muito tempo.

Popó vai voltar aos ringues em Santos
Popó vai voltar aos ringues em Santos
Foto: Paduardo e Thiago Duran / AgNews
Fonte: K.R.C.DE MELO & CIA. LTDA – ME K.R.C.DE MELO & CIA. LTDA – ME
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